segunda-feira, 12 de março de 2018

Tem pai (pastor) que é cego



No bloco D, reside uma família de evangélicos. Lá, moram o pai e a mãe, duas moças e dois rapazes. O pai, há anos, é pastor de uma igreja evangélica no bairro. Sua senhora também é membro da mesma igreja, assim também como seus filhos. Nos corredores do condomínio, a vida do pastor é falar das meninas: adolescentes que transitam normalmente de shorts, calça jeans, maquiagem, pulseirinhas e cabelos pintados. Aos meus olhos, nada de anormal. Já na opinião do pastor, a coisa não é tão simples assim.

Comentários como: “Estão todas perdidas”, “Essas meninas não têm pai. Se brincar, já são mulheres do mundo”, “Se eu fosse o pai delas, estariam na igreja”, são diários pelo condomínio.
No apartamento do pastor, ninguém usa short e muito menos bermuda ou calção. Os homens vestem calças sociais 24 horas por dia. As mulheres, uma espécie de vestido de cor em tom pastel que vai do pescoço até o chão. Quem muito olha, com sorte, consegue-se ver um pedaço do calcanhar. Se bem que eu respeito e não olho mesmo.

A igreja do pastor é perto do condomínio, quem transita no sentido centro-bairro, ou vice-versa, acaba passando em frente. Nas quartas à noite, o culto é no terreno na porta da igreja. “Quem tem ouvidos que ouça”, diz o pastor aos gritos no microfone enquanto ler uma das passagens bíblicas. No caminho de casa, reflito sobre as criancinhas e idosos que têm seus sonos interrompidos diante de tanto entusiasmo. E quem assiste novela? E o Jornal Nacional? É, mas para alcançar a salvação há quem diga que é preciso ouvir pastor.

Mas como diz o ditado que de perto ninguém é normal, a vida do pastor não seria uma exceção e logo viraria notícia na bendita portaria do condomínio. Noite dessas, uma ação policial em um terreno usado como campo de futebol, próximo ao condomínio, abordaria um casal transando no escurinho. Depois da abordagem, a viatura com os policiais veio na direção do condomínio e dentro, o casal detido por ato obsceno. Apesar de já passar das 21h, podia-se ver cães, gatos e moradores do prédio arrumando desculpas para ir, discretamente, até a bendita portaria ver do que se tratava.
A jovem detida era uma das filhas do pastor. A cena era inacreditável e, para o pastor e pai da menina, de um constrangimento gigantesco. Claro que não tinha nada demais uma jovem acompanhada do seu namorado se divertir, mas para os policiais, apesar de ser crime, era uma ação perigosa tendo em vista o mundo tão violento que vivíamos.

Mesmo constrangido, o pastor agradeceu a ação dos policiais e entrou no condomínio acompanhado de sua filha. O jovem foi liberado, mas sem direito a beijo de despedida. Nesta noite, graças a Deus, não ouvimos nenhum barulho vindo do apartamento do pastor e, desse dia em diante, o líder religioso não se atreveu mais fazer comentários calorosos sobre ninguém. Meses depois, o pastor invadiu o tal campo de futebol onde sua filha foi apanhada. Ele cercou e construiu duas casas pequenas. Acho que para garantir a invasão. O terreno é da prefeitura e deveria ser um local para a construção de uma praça ou talvez um mercado público. O fato é que, até agora, nenhuma providência foi tomada parte dos órgãos públicos. No entanto, nós que fazemos o condomínio desejamos, verdadeiramente, que o pastor e sua filha deixem mesmo de achar que aquele terreno é só para uso deles.



sábado, 10 de março de 2018

Ponto de partida



Moro em um dos condomínio da Zona Sul de João Pessoa. Quatro blocos, apartamentos com mais de 90m2, área de lazer, parquinho, estacionamento, pracinha, entre outros. O local é bem localizado, fica próximo a paradas de ônibus, farmácias, mercadinhos, cabeleireiros, padarias, universidades... Supermercados próximos têm logo três dos grandes. No condomínio não tem elevadores e nem piscina, mas como o título do blog já diz, é fechado e tem uma portaria para controlar o acesso de veículos e pessoal. A portaria é uma especie de redação de jornal impresso, ou seja, tem gente de tudo quanto é tipo e as notícias são para tudo quanto é editoria. As fofocas são o ponto alto da portaria e um relatório completo de quem bebeu e quem não bebeu, quem bateu e quem apanhou, quem botou chifre e quem levou, quem tem dinheiro e quem não tem, quem é gay e quem não é, é passada de boca em boca no decorrer do dia e da noite. Como os causos são inúmeros, e dos mais hilários, farei uso deste espaço como forma de manter viva a memória imaterial desta mitológica vivenda de 96 apartamentos.

Tem pai (pastor) que é cego

No bloco D, reside uma família de evangélicos. Lá, moram o pai e a mãe, duas moças e dois rapazes. O pai, há anos, é pastor de uma igre...